Cavaleiro Citadino

Após mais de um mês de campanha, noticias e contra-noticias, debates e mais debates, concertos manifestações, vigílias e confrontos políticos ouvi a coisa mais sábia sobre este referendo pela voz de uma idosa de idade avançada residente na isolada aldeia de Rio Frio em Trás-os-Montes.
"Isto é só para andarem aí a gastar dinheiro" ou algo do género foi o que a senhora disse com desinteresse à câmara da SIC. Claro que pode parecer um discurso retrógrado e antidemocrático, mas depois de tudo o que vi durante este tempo todo é o que me parece mais plausível.
Estou farto e apercebo-me de que isto tudo não passa de uma farsa. Se quisessem decidir alguma coisa já o tinham feito, se quisessem mudar já o tinham feito. Nós elegemos um governo com maioria absoluta, é porque confiamos nele. Para quê andar com esta treta toda? Mais! Dos partidos com lugar na Assembleia da República só o PP é manifestamente contra a "Despenalização". Então para quê? Para quê andarmos nisto outra vez. Se o não ganhar outra vez daqui a uns anos vamos voltar a isto. Mas para quê?
Parece-me que é para tudo menos para ouvir o povo. É para se falar, para se brincar à política mais uma vez. Para pôr a mexer máquinas partidárias num intervalo muito grande sem eleições. Para se fazer mais uns tostões e para se perder mais uns quantos. Para se ganhar notoriedade pública e para se ganhar eleitorados em todas as frentes. Se calhar agora já não parece tão antidemocrática a afirmação da senhora de Rio Frio. Isto entristece-me. Isto e o facto de toda a gente discutirem sem saber o que está a dizer. Já se ouviram tantas enormidades nesta campanha que mete dó. Ninguém sabe do que fala, ou não quer saber ou não quer fazer saber. Os partidários do sim preferem que ninguém saiba que as mulheres vão continuar a ser presas se praticarem aborto após as 10 semanas. Os partidários do não preferem que ninguém saiba que apesar de ninguém nunca ter sido condenado à prisão tiveram de passar por julgamentos e prisões que são da maior humilhação para a mulher.
Por isto, por não se perguntar no referendo o que se aprova na lei, por acreditar que o referendo não passa de uma farsa, não vou apoiar nenhum dos lados. Mas vou votar. E acho que toda a gente o deve fazer. Para pelo menos mostrarmos que se nos pedem a opinião da-mo-la. Mais que no café ou no autocarro.